sexta-feira, 8 de junho de 2012

LÚCIFER, O PORTADOR DA LUZ - Parte I





Cena 1:
- Eu porto a Luz!
Cena 2:
- Eu sou o mais poderoso dos anjos em toda Criação!
Cena 3:
Eu sou o governante dos mundos!
Cena 4:
- Quem ousa me enfrentar?


Em uma conjunção digna de uma grande epopeia, a mais monumental de todas, antes da criação dos mundos, as possíveis declarações, acima elencadas, com efeito, marcaram, para sempre, o destino das divindades celestiais, e, por conseguinte, das várias humanidades que povoaram a Terra desde o episódio hediondo marcado por uma tentativa de conspiração, quando uma legião de anjos rebelou-se contra Deus, que pairava majestoso sobre o tempo zero.
A voz que proclamara poder, arrogância, emulação e rebeldia fora estridentemente desferida nas mais altas esferas angelicais pelo mais perfeito, altivo e belo de todos os seres: um anjo, da classe exuberante dos querubins - LÚCIFER - o Portador da Luz.



O nome Lúcifer, que é formado pelas palavras latinas Lux, lucem - Luz - e fer, de ferre, o que porta,  aquele que carrega, traz; é o distintivo magno atribuído ao primeiro ser criado depois do próprio Deus, no tecido intangível da Eternidade. Desse modo, evidencia-se, de forma inconteste, a natureza e a figuração desta entidade singular, e que, indubitavelmente, é o mais temível e o mais poderoso de todos os anjos, cuja saga remonta às hordas primordiais, ao Fiat Lux e à soberania indevassável do Altíssimo em sua glória inigualável.


Criado a partir do fogo consumidor de Deus, Lúcifer nasce da labareda que mantinha a deidade refulgente e suspensa no Infinito quando o espírito solitário do Altíssimo movia-se sobre o Nada  antes da fundação dos mundos em essência misteriosa, singular. Saído, portanto, do estado ígneo do próprio Deus, e por vontade suprema de Jeová, Lúcifer é, de forma cabal, o primígeno do Senhor, no plano etéreo, onde as formas, absolutamente diáfanas e espirituais, desconheciam, ainda, a densidade dos universos, dos mundos e dos entes. O querubim mais poderoso das hostes angelicais é filho nascido do estado da glória de Deus, o Todo Poderoso, cuja luz irrompeu em todas as fendas ocultas e dormentes no vasto universo, que acolheu a vida, com todas as suas formas manifestas.



As narrativas sobre Lúcifer estão envoltas em muitos mistérios, pois, apesar das miríades que plasmam as mais altas abóbadas celestiais, este querubim desempenhou papel fundamental ao lado do supremo Deus, que lhe confiou o zelo e a administração dos mundos, todos sob seu governo, então intocável, até à corrupção de si, quando inflamou seu coração com o ciúme dantesco e a cobiça odiosa - fato que, paradoxalmente, torna a estória do mais reluzente dos anjos no grande élan, que entrelaça o mundo superior com o mundo inferior. Céus, Terra e o famigerado Abismo entrecruzam-se e o Homem é, involuntariamente, o elo da discórdia entre o único anjo, que tinha o privilégio e o direito de estar diante do Altíssimo, e o Senhor dos Senhores; o princípio e o fim de todas as coisas - o impronunciável, o sublime, o Eterno e soberano Deus.


Lúcifer é dotado de 12 asas brilhantes, e o porte magistral de seu corpo alado destoa dos demais anjos, o que lhe confere o lugar exemplar, que possuía, no berço da Criação. Testemunha etérea dos atos divinos do Criador, o querubim foi ungido por Deus logo ao ser criado. O fogo consumidor, que o gerou, deu-lhe a maior característica no mundo angélico: a luminescência. É plausível pensar, portanto, que, nos sulcos da Eternidade, o estado de luminosidade, que espargia para além do infinito, mantinha um equilíbrio harmônico presente no trono de Deus e nas esferas espirituais que Dele emanavam - a morada dos anjos. Esta simetria de luz, força e poder, com efeito, era consagrada e perceptível; e, por conseguinte, imbatível pela posição que ocupava o príncipe dos anjos na escala angelical, pois, Lúcifer, era nada mais nada menos que o regente do coro celestial, que se prostrava permanentemente diante do Altíssimo para adorá-Lo em toda sua glória e magnificência.


O fascínio pela estória de Lúcifer e a legenda sedutora em torno deste querubim ungido povoam, atemporalmente, as mentes de todos os mortais, pois, ao contrário de outros seres angelicais, que parecem não possuir uma narrativa própria e distintiva no mundo angélico e na esfera suprema do poderoso Deus, o príncipe das potestades do ar goza, para o bem ou para o mal, de um lugar único na trajetória dos tempos imemoriais. Outrossim, o filho do fogo primordial transformara-se, indiscutivelmente, na personagem nuclear de uma trama inominável, onde todas as entidades celestiais estavam presentes antes da criação do mundo e do Homem, e, protagonizara o desastre apoteótico ocorrido na Eternidade quando, no embate colossal entre sua legião rebelde e os anjos de Elohim, o Senhor dos Exércitos, o seu plano de destronar Deus falhara fragorosamente. Após a derrota memorável, Lúcifer, em queda livre, ao rasgar as esferas angelicais e tombar na terra como estrela cadente, perdera, para sempre, não somente o posto de primeiro ser de luz a governar os céus, o universo e os mundos, imediatamente abaixo do Altíssimo, mas a condição de, um dia, poder retornar majestoso para estar ao lado de Deus, novamente. Anjos não se arrependem, e o fim de todos que estiveram na grande rebelião tem um nome: sheol (o lago de fogo eterno).


Líder da maior revolução sobre a qual diversas legendas míticas são descritas, de forma inconteste, o mais belo dos seres, no plano celeste, é o autor da cena caótica, que testemunhara a ordem máxima de Deus desabar tal qual o seu corpo luminoso; e arrastar juntamente consigo seus anjos malévolos para a Terra, teluricamente tecida e criada pelo Senhor dos Senhores - o  Todo Poderoso. A conjunção imperfeita, orquestrada por Lúcifer e seu exército portentoso - um terço das hostes angelicais -, vaticinou o início do seu próprio fim, atingindo as leis da Criação, que são imutáveis, e determinando a reorganização das forças imperantes no mundo após o evento extraordinário, que fora o Fiat Lux. Nos termos do universo, as trevas densas e insuperáveis; nos limites infindáveis da Luz, a face de Deus, que, implacavelmente, expulsou o segundo ser cósmico a receber o fôlego divino para além do Abismo, em suas zonas dolentes, imperecíveis e eternas.


A aparição de Lúcifer, na cena que antecedeu o princípio de todas as coisas, onde a predisposição anímica estava permanentemente suspensa sobre o nada absoluto, a despeito do episódio da discórdia celestial, provocou a cisão da própria unidade da deidade, que, uníssona e unívoca, reinava soberana ad inifinitum sem testemunhar a turbulência e os ares da traição. A divergência entre as forças monumentais geradas da própria Luz formou a substância da proto-história da humanidade, segredo de Deus e projeto modelar, que desencadeou o nascimento do Abismo - pai universal das trevas postas nos limites do Universo, esfericamente afastado das zonas luminescentes e da presença do Altíssimo. De um lado, o excelso e o inefável, o Alfa e o Ômega, mergulhados no mistério exponencial da essência, pois o Eterno e a Eternidade conjugam-se de modo singular antes, durante e depois. Do outro lado, o temível, o poderoso e o destruidor dos mundos, que, um dia, irradiou nos céus dos céus o esplendor e o ruflar de suas asas ígneas, múltiplas e descomunais. O querubim ungido fora um e o ser movido pela cobiça, desafortunadamente, tornara-se outro. Da unção à escuridão, a trajetória solitária de um anjo.


A estória dos céus, da existência de Deus, da criação de todas as coisas, visíveis e não - visíveis, e, principalmente, do surgimento do Homem, a partir da massa amorfa, que é o barro, só tem sentido real  a  partir do evento colossal, que fora o cisma, a dividir os planos etéreos em mundo superior e mundo inferior. De um lado, a luz fundadora, que é o Senhor dos Senhores - Iavé - e a luz fundada, que é Lúcifer, o segundo ser na linhagem divina das entidades eternas. Assim, desde o início dos tempos quando a geração pré-adâmica, que assistira ao confronto das forças primevas, no berço da eternidade, também testemunhara a obra prima de Deus, o Homem, sua efêmera perfeição, e, por conseguinte, sua queda através do fatídico advento do pecado. O plano da criação, neste sentido, estivera condenado ao fracasso, pois os pilares augustos do Eterno ainda tremiam por causa da cobiça, da soberba, do ciúme, do orgulho, da inveja, da ira e da traição. Suportar a ideia da existência de um ser à imagem e semelhança de Deus, indubitavelmente, fora a maior pena que sobrepesou na consciência de um querubim, que viu, na corrupção de si, a sua sentença aniquiladora vaticinada pelo Pai, o Todo Poderoso. Assim, o filho sentiu-se abandonado pelo próprio pai, e a rejeição acendeu a chama caliginosa da destruição em seus atos aterrorizantes.


O Apocalipse não é a revelação da profecia sobre o fim dos tempos quando o dia do juízo reviverá as cenas dantescas, que macularam, em um passado imemorial, a trajetória da Luz, infinitamente eterna e eternamente infinita. Ao contrário: o Apocalipse emergiu na aurora divina quando o mais perfeito dos anjos saiu das entranhas de Deus para coadjuvá-lo na organização e no zelo das dimensões físicas e etéreas espalhadas pelo Universo. A tinta escarlate do Armagedom ainda não expirou e a guerra angélica  parece interminável.


Na consumação dos séculos, o último confronto; no duelo entre o Bem e o Mal, eis a grande questão: quem vencerá?

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O que move a descoberta da verdade é a sensibilidade de cada um em desejar a busca e, portanto, a revelação do que está oculto. A sua contribuição, se está baseada neste princípio, efetivamente, alargará o conhecimento de todos, pois o saber se dá por inclusão e não por exclusão.
Prof. Dr. João Carlos de Souza Ribeiro.

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